Amigos,
Uma pequena cidade com 120 mil habitantes, onde não há monumentos nem museus conhecidos, um destino escolhido por imposição uma vez que a minha namorada tinha lá uma conferência, local onde falam uma língua incompreensível para mim... Estavam reunidos os ingredientes para uma viagem sem interesse ... foi totalmente o contrário!
Estou a falar de Bruges. Uma cidade localizada na zona norte da Bélgica que nos tempos da idade média foi um grande centro, ainda sobreviveu à 2ª guerra mundial e fez preservar a sua arquitectura e encanto pelos tempos.
O que vos contarei a seguir é a fantástica viagem a Bruges que fiz no mês de Maio de 2014.
Tendo conhecimento que a minha namorada, a Soraia, teve a presença confirmada numa conferência na cidade de Bruges, resolvemos tratar das viagens e estadias o quanto antes. O plano geral seria sairmos do Porto de avião para aterrar em Bruxelas, apanhar o comboio para Bruges e ficar lá durante a conferência e depois voltar (com este esquema invertendo) pernoitando uma noite em Bruxelas. Como tratámos de (quase) tudo antecipadamente, conseguimos ir e vir de avião para os 2 por apenas 79,6 € (19,9€ cada), estadia em Bruges por 53€/noite e 49€/noite em Bruxelas. Faltava apenas as viagens de comboio, mas optámos por não reservar pois teríamos que indicar as horas, algo que com atrasos e outros imprevistos, decidimos não arriscar.
Imprimimos os papéis das reservas e fizemos as malas calmamente na segunda-feira, pois o avião foi no dia seguinte às 15:30.
Portanto, na terça-feira, almoçámos umas deliciosas sandes de leitão no renovado e bonito mercado do Bom Sucesso. Estava tudo a correr calmamente e às mil maravilhas, até que descobrimos que não trouxemos o cartão de crédito!!!! Estávamos a 35km de casa com o avião a descolar em 1 hora e meia, e antes até comentámos como tudo estava a correr tão bem! De facto houve uma certa apreensão e questionámos se deveríamos voltar a casa para ir buscar o cartão. Mas não, desta vez arriscámos e continuámos calmamente o percurso até o aeroporto (Atenção: no final, correu bem pois não precisámos do cartão de crédito na viagem, mas é melhor levá-lo sempre).
Finalmente estávamos a levantar voo em direcção a uma férias espectaculares!
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Vista sobre o Norte de Portugal | | Vista sobre a Bélgica |
Aterrámos no aeroporto de Zaventem e apanhámos logo o comboio para Bruges. Apenas uma nota: o bilhete de ida de comboio foi mais caro que o bilhete de ida de avião (20,6€ vs. 19,9€), pouco mas foi!
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Bilhete de comboio de Zaventem para Bruges | | Chegada a Bruges |
As viagens foram tranquilas e finalmente chegámos às 21:15 a Bruges. O hotel era o Ibis Budget e era mesmo ao lado da estação, ou seja, fora do centro histórico de Bruges. Antes de fazer o check-in ainda fomos procurar um local para jantar, uma vez que não tínhamos comido nada desde o Porto. Mas já estava tudo fechado! Então comemos uns waffles duma máquina de vending. Depois do "jantar" fomos para o hotel e finalmente pousámos as malas. O hotel era jeitoso e o quarto, embora pequeno, era bastante confortável, e tudo isto por 53€ a noite!
O quarto fez-me lembrar o quarto em Londres, mas este tinha um aspecto mais arrumado, tinha televisão e umas espécies de mesinhas-de-cabeceira e cadeiras para pousarmos os pertences e roupa (utilidades inexistentes em Londres). E foi assim o dia de chegada para preparar a aventura que vinha a seguir.
Dia 1 - Vou ali à praia de bicicleta e volto já (37,3 km)
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Percurso de bicicleta de Bruges até Zeebruge |
Como a Soraia ia estar ocupada com a conferência, achei que não valeria a pena desfrutar do romantismo de Bruges sem a companhia dela, daí deixei a verdadeira visita à bonita cidade quando ela estivesse livre. Deste modo tinha 2 dias livres para fazer algo engraçado sozinho.
Após ter acompanhado a Soraia até ao local da conferência, fui a uma loja de aluguer de bicicletas (a mais barata da pesquisa que fiz antes de ir de férias) e aluguei uma bicicleta por um dia por apenas 6€ e sem caução (do que pesquisei, era normal ser 8, 10 ou 12€ e algumas com caução de 50€). O dono da loja era um pouco antipático, mas o que eu queria era uma bicicleta barata por um dia e não a simpatia dele. Portanto deixei os meus dados e fiz-me à estrada
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Loja de aluguer de bicicletas | | A bicicleta alugada |
O objectivo deste dia era ir à praia, mais propriamente a Zeebruge. E este objectivo pertencia a um objectivo ainda maior que era demonstrar que estes países têm uma sorte enorme em estar no centro da Europa, pois podem facilmente ir passear para outro local com culturas e vivências diferentes, e as vantagens que isso acarreta tanto a nível pessoal como colectivo.
Zeebruge fica a 18 km de Bruges e é uma cidade com um porto enorme. Não andava de bicicleta há meses, logo foi muito penoso para mim, ainda para mais, perdi-me algumas vezes. Felizmente aquela zona é muito plana e a temperatura estava impecável.
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Canal ao sair de Bruges |
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Após estar perdido, lá encontrei uma placa a indicar onde é Zeebruge |
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Ciclovia de acesso a Zeebruge |
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Acesso a praia em Zeebruge |
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Zeebruge |
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Praia de Zeebruge |
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Molhar os pés nas águas do Mar do Norte |
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Mar do Norte |
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Pronto, lá cheguei a Zeebruge. A cidade estava vazia, pois era dia de trabalho, mas tinha uma praia enorme (mas nada se compara às nossas praias portuguesas, ao seu Sol, areia e temperatura da água). Para cumprir o objectivo do dia, fui molhar os pés nas águas do Mar do Norte. A água não estava gelada, e até soube bem.
Ao voltar fui despropositadamente por outro percurso, sem me perder e até encontrei uns locais bonitos, e finalmente, lá cheguei a Bruges.
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Igreja numa aldeia a meio caminho de volta |
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Placas a indicar o caminho |
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Entrada de Bruges |
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Porta de Ezelpoort, entrada do centro histórico de Bruges |
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Voltei à loja de aluguer, entreguei a bicicleta e as dores já eram muito fortes. Fui ao hotel para tomar um banho revigorante, mas quando cheguei ao quarto deitei-me e ... adormeci. Dormi durante uma hora e quando me levantei para tomar banho, as minhas pernas estavam a causar-me um grande sofrimento. Resultado, tomei banho sentado num poliban. No fim, lá arranjei forças para ir comprar o pequeno-almoço para o dia seguinte e encontrei-me com a Soraia para jantar num restaurante perto do hotel.
O jantar foi pizza e ice tea ... com gás! Pois é, uma nota importante para quem não gosta de bebidas com gás, tanto em Bruges, como em Bruxelas, qualquer bebida tem gás, até o ice tea, e fica com um sabor muito estranho. No entanto a pizza estava saborosa e a lasanha da Soraia tinha bom aspecto. Tudo ficou por 26€. Voltámos ao quarto e descansámos para o dia seguinte. Ainda consegui ver o Benfica que infelizmente não ganhou a Liga Europa (e não, não sou do Benfica, mas gosto que equipas portuguesas ganhem competições internacionais).
Dia 2 - Vou ali à Holanda de bicicleta e volto já (34,6 km)
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Percurso de Bruges (Bélgica) até Sluis (Holanda) |
No dia seguinte o meu corpo continuava a doer mas ainda tinha uma viagem para cumprir a minha missão. Desta vez o objectivo era atravessar fronteiras e ir para outro país ... a Holanda.
Lá voltei à loja de aluguer de bicicletas do dia anterior e já fui melhor recebido. Estava lá muita gente e o dono avisou que não tinha nenhuma bicicleta disponível, excepto uma em 2ª mão! Fez questão de me deixar experimentar antes de lhe pagar (de facto a bicicleta gingava por todos os lados), mas como estava numa de aventura, aceitei e ele fez um preço especial de 5€ pelo dia.
E lá fui eu!
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Bicicleta de 2ª mão do 2º dia |
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Igreja em Bruges no percurso em direcção à Holanda |
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Moinho de vento em Bruges |
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Damme, uma vila a meio caminho |
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Placas a indicarem as distâncias para os locais da zona |
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Chegada a Sluis (Holanda) |
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Os músculos das pernas, mãos e rabo já estavam a implorar para parar, mas a missão tinha de ser cumprida. Passei por Damme, segui outros ciclistas e fui dar uma volta maior desnecessariamente e lá cheguei à Holanda, mais propriamente a Sluis.
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Canal principal de Sluis |
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Restaurante e moinho em Sluis |
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Igreja em Sluis |
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Outra perspectiva do canal |
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Sluis é uma vilazinha holandesa muito bonita e também muito turística. Estava imensa gente nos restaurantes (com preços elevados para o que estava disposto a pagar) e tinha um ambiente espetacular. Entrei num supermercado e lá comprei o meu almoço
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O meu almoço em Sluis |
Almocei junto ao canal, num banco de madeira, a apreciar o momento de paz, com um Sol e temperatura maravilhosos. Descansei um bom tempo a pensar que o objectivo estava quase concluído, faltava apenas voltar.
E assim, devagarinho, comecei a fazer a viagem de volta a Bruges.
As dores eram insuportáveis, não tinha posição confortável em cima da bicicleta, e ajudava as pernas a pedalar com as minha mãos.
Mas o que fiz a seguir não dá para transpor em palavras: parei um pouco, pus os auscultadores, liguei-os ao meu telemóvel e coloquei
esta música. (Sugiro que ouçam a música enquanto continuam a ler).
Devagar recomecei a pedalar. A conjugação da música com a água dos canais, com o verde das árvores e da relva, com o céu azul, a brancura da nuvens, a aragem refrescante, tudo combinado, deu-me forças para pedalar e pedalar para chegar ao destino... foi um momento único e algo que tão cedo não irei esquecer.
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Momento em que parei para pôr a música |
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Percurso para Bruges |
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Mais outra foto, o verde das árvores |
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O Sol e a luz, e o canal à direita |
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Uma boa música torna o momento mais agradável, mais motivador, mais inspirador e inesquecível. E com a tecnologia que temos actualmente, podemos facilmente acompanhar os momentos mais marcantes com as nossas músicas favoritas. Quando estamos em grupo não convém colocar auscultadores, pois cria uma barreira social desnecessária, mas quando estamos sozinhos, a música é um factor de motivação que nos faz chegar mais alto e viver o momento com maior intensidade. Experimentem, vão ver que a sensação é indescritível.
O momento único que vivia fez-me esquecer as dores, e finalmente conclui a minha missão: cheguei a Bruges!
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Entrada de Bruges, Dammeport |
Fui à loja de aluguer de bicicletas e entreguei-a. Despedi-me do dono e fui para o hotel tomar banho e descansar um pouco. Tomei banho, mas depois não descansei, pois ainda estava encantado com o momento que tinha acabado de viver. Nesse dia, a Soraia tinha o jantar de convívio da conferência nesse dia, logo fui dar umas voltas pela cidade. Fui ao mercado, e a luz do fim de tarde proporcionou imagens lindas do centro histórico desta linda cidade.
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Catedral de Sint Salvators |
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Praça do Mercado |
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Outra perspectiva do mercado |
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Mais outra perspectiva do mercado |
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Mais outra |
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Belfort (fica no mercado) |
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Fachada de um edifício muito bonito (fica no mercado também) |
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O recorte das fachadas, as cores, a calçada, a limpeza, os sons desta cidade única encantaram-me.
Naquele dia, Bruges entrou no meu Top 5 de cidades favoritas. Apenas faltava desfrutar um momento com a companhia da Soraia, então aproveitei para ver horários e preços para andar de barco no dia seguinte. Voltei ao quarto do hotel e como havia wi-fi, experimentei a app que desenvolvi, o
PicPOI (ou podem vê-lo
aqui no facebook), para mandar uma foto de Bruges que tirei naquela tarde.
Chegou a noite e o cansaço era tanto que adormeci logo a seguir à Soraia ter chegado.
Dia 3 - Adeus Bruges, obrigado! Olá Bruxelas (98,8 km de comboio)
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Percurso de comboio de Bruges até Bruxelas |
A conferência ainda tinha uma parte de manhã e terminaria após o almoço. Aproveitei essa manhã para vaguear novamente pela cidade de Bruges e apreciar qualquer momento neste paraíso. Vi souvenirs e preparei tudo para proporcionar à Soraia e a mim um último momento mágico em Bruges. Ainda fui ao supermercado comprar umas sandes e sumo para o almoço e por volta do meio-dia lá fui almoçar no Minnewaterpark (em português, o parque do lago do amor).
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Uma vista de uma das inúmeras pontes de Bruges |
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Uma rua algures em Bruges |
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Entrada de Bruges via Minnewaterpark |
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Uma ponte do lado do amor (o sítio em que tirei esta foto contém um segredo) |
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O parque onde almocei pela última vez em Bruges |
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O Minnewaterpark era a nossa porta de entrada a Bruges que ligava o hotel onde estávamos até ao centro da cidade. Atravessei-o várias vezes e já fazia parte da rotina, como se já fizesse parte de mim, e queria deixar para o fim para finalmente sentar-me, almoçar ... e apreciar.
Enquanto almoçava, crianças de alguma escola brincavam, jovens e adultos sentados na relva à minha volta conviviam, e um idoso atirava um pau para que o seu amigo de quatro patas o fosse buscar. A qualidade de vida e felicidade estava bem patente em qualquer rosto naquele belo parque, algo que não vejo muito no nosso país. O que será que nos falta? Não ter políticos corruptos? Salários melhores? Educação melhor? Menos impostos? ... Bom, acho que poderíamos começar por sair para o parque mais próximo e conviver com os amigos.
Após o almoço, a Soraia enviou uma mensagem a dizer que a conferência tinha acabado, e então fomos fazer a viagem de barco pelos canais de Bruges.
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Já no barco a fotografar uma ponte |
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Um edifício antigo e bonito |
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Reparem no recorte das fachadas das casa |
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Casas típicas de Bruges |
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Ao longe é a torre de Belfort do mercado |
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Esta casa tinha fachada em madeira |
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Bruges e o canal |
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O canal por onde íamos |
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Uma varandinha sobressaída, própria para apreciar um livro ou uma paixão |
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Enfim, só mesmo estando lá. Tudo é bonito, tudo está arranjado e cuidado, tudo perfeito ... só estando lá é que se sente, é impossível descrever o momento que vivi.
Com o fim da viagem de barco, fomos com as malas em direcção à estação de comboios e apanhámos o comboio para Bruxelas.
Adeus Bruges, obrigado pela experiência única que me proporcionaste! Espero mesmo voltar, para reviver estes grandes momentos!
E chegámos a Bruxelas a meio da tarde. Fomos a pé até ao hotel Sabina (49€/noite), perdemo-nos até chegar lá, mas lá chegamos ainda a tempo de pousar as malas e sair para dar uma voltinha.
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Edifício imponente em Bruxelas |
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Jardim e vista sobre Bruxelas |
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Manneken Pis |
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Fachada muito bonita e bem trabalhada |
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Edifício do Grand Place de Bruxelas |
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Outra perspectiva do Grand Place |
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Bruxelas é uma cidade enorme, cheia de edifícios altos que trazem uma certa escuridão à cidade. Neste blog, gosto de enaltecer os locais por onde passo, ou pelo menos não criticar, mas Bruxelas é um sítio que não gostei muito. Admito que com o que vivi em Bruges, a fasquia estava muito alta, mas o facto é que havia muita sujidade e pobreza, e a própria cidade era fechada e com poucas placas a indicar ruas e locais turísticos.
Descemos umas ruas e fomos jantar a um sítio adequado à nossa carteira e com um simpático dono de um restaurante libanês.
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Jantar no restaurante libanês |
Comemos um shawarma cada um, bebida, uma sobremesa e café, tudo por 21€. Já escurecia e decidimos voltar para o hotel. O nosso quarto era pequeno, tinha um aspecto velho, mas tinha tudo para ter uma noite confortável. E assim foi.
No dia seguinte tomámos o pequeno-almoço lá no hotel. Pagámos 3€ cada e enchi o bandulho para o dia, uma vez que podíamos tirar o que quiséssemos.
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Pequeno-almoço no hotel |
Fizemos o check-out e com as malas andámos por Bruxelas a aproveitar o máximo pois tínhamos que apanhar o comboio das 11h, para apanhar o avião às 13h30.
Visitámos pouco no pouco tempo que tínhamos, pois perdemo-nos, novamente. Apanhámos o comboio, almoçámos no aeroporto (desta vez foi Nestea com gás ... muito mau, diga-se de passagem) e levantámos voo para o nosso cantinho da Europa, jardim à beira-mar plantado!
Esta viagem à Bélgica recarregou-me as energias. Fisicamente estava de rastos, mas de cabeça estava impecável. Relembrou-me o poder da música certa no momento certo. Vivi momentos românticos, vivi momentos de paz e de pura apreciação.
Costumo pensar que viajar não é somente ir do ponto A ao ponto B, há toda uma panóplia de sensações, sentimentos e vivências que podemos consumir a cada esquina. Viajar é importante para o nosso crescimento individual e também na sociedade. As viagens de bicicleta que fiz, foi para demonstrar a sorte que os belgas e outros da Europa Central têm, pois podem ter essas experiência muito facilmente
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Localização de Bruges na Europa |
Num raio de 300km podem visitar 5 capitais!
Uma coisa é certa, se não podemos estar no centro da Europa, ao menos que peguemos nuns auscultadores e façamos umas viagens pelos verdes que temos, ou até peguemos nos nossos amigos para conviver num parque mais próximo ... isto, também, faz-nos bem!
Até à próxima viagem, amigos!
Rui Costa
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