Viva pessoal,
Escrevo em português, sou português, mas ainda não tinha escrito sobre Portugal. Não é que não tenha viajado pelo país fora. A verdade é que a duração e qualidade das viagens nunca foram suficientes para escrever sobre as mesmas. A culpa não é do destino (leia-se viagem), mas sim minha. Desta vez, foi diferente, e dito isto, eis que chega o diário de bordo sobre a última viagem que fiz: A viagem ao centro da terra.
Escrevo em português, sou português, mas ainda não tinha escrito sobre Portugal. Não é que não tenha viajado pelo país fora. A verdade é que a duração e qualidade das viagens nunca foram suficientes para escrever sobre as mesmas. A culpa não é do destino (leia-se viagem), mas sim minha. Desta vez, foi diferente, e dito isto, eis que chega o diário de bordo sobre a última viagem que fiz: A viagem ao centro da terra.
Aproveitámos
3 dias para fugir da rotina. Três dias que aqui tento compactar para
mostrar o que de bom (e acredito que seja apenas uma amostra) tem o
centro do nosso Portugal.
1º Dia – Arte, vinho, xisto e amizade
Bem
cedinho no primeiro dia, eu e a minha namorada fomos em direcção a
Sangalhos, uma cidade do distrito de Aveiro, casa do famoso espumante
Aliança. Sangalhos insere-se na zona da Bairrada, famosa pelos seus
espumantes e leitões de comer e chorar por mais. Nesta cidade existe
o museu “Underground Museum”, pertencente ao Comendador Joe
Berardo, onde o próprio decidiu juntar o vinho e arte de todo mundo.
Na entrada fomos recebidos por duas estátuas de Buda sorridentes, o
que não é normal numa casa de vinhos, mas de facto é um pormenor bastante engraçado, e que representava que o espaço não é apenas sobre vinhos. No museu, por apenas 3€ cada, somos
agraciados por uma visita guiada pelas caves Aliança, nessa visita,
é explicado o processo de criação do espumante (onde aprendi, que
não é o mesmo que champanhe), juntamente com esculturas tão
diferentes como distantes em tempo e espaço, como por exemplo,
tribos extintas da zona da Nigéria até à Índia de Gandhi. Há
também fósseis (a maior colecção de fósseis de peixes do mundo),
pedras crivadas de cristais vindas do Brasil e imensas peças do
nosso Rafael Bordalo Pinheiro. Fomos conduzidos a 20 metros abaixo do
solo, onde estagiam os diversos tipos de vinhos da Aliança, desde
aguardente, a espumantes, passando para vinhos de festa, tipo “sunset
parties”.
A
visita durou 1h30 e vale muito a pena, se passarem lá perto, e
também convém ir bem cedinho (visita das 10h00), uma vez que nós
tivemos uma guia somente para nós os dois, ao passo que a visita
seguinte (11h30) era composta de mais de 40 pessoas. Ter o menos
pessoas possível é melhor, pois há uma melhor interacção e
estamos um pouco mais à vontade para parar um tempinho a contemplar melhor determinadas obras.
No
fim, tivemos uma prova de espumante Aliança e um novo produto dos
tais vinhos de festa. Lembrem-se: Sangalhos, 3€, “Underground
Museum”, 10h00 … um conjunto que vale mesmo a pena ter.
Para mais informações, visite o site: Underground Museum Sangalhos
Chegado
ao fim, comprámos umas garrafas ao “preço de fábrica” para
recordação e para oferecer, e prosseguimos viagem em direcção a
Piodão.
Almoçámos
pelo caminho entre Luso e Mortágua. Passámos por Santa Comba Dão,
Tábua, Côja e pelas aldeias de Benfeita e já se podia vislumbrar a
natureza belíssima da região central do país. Paisagens belíssimas
de montes invadidos pelo verde e castanho das árvores e aldeia
remotas encrostadas nas colinas das montanhas, Passado algum tempo
nas estradas sinuosas, lá vimos Piodão em baixo no sopé da
montanha. Tons castanhos e cinzentos da pedra xistosa aglomerados no
meio de um gigante monte onde reina os tons característicos de
Outono, eis que nos aproximávamo-nos da aldeia típica de xisto de
Piodão.
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Piodão - Uma aldeia típica de xisto |
Piodão
é uma aldeia que vale a pena caminhar pelas ruas estreitas, entre
casas encavalitadas umas nas outras.
Só de imaginar o esforço
titânico das pessoas a erguerem pedra sobre pedra as suas casas e o
telhado com placas finas e largas do mesmo material, dá vontade de
fazer uma com as minhas próprias mãos. As portas e janelas todas de azul, o
chão das ruas também de xisto, vasos com flores e plantas, todo o
cenário é lindo, e faz-nos levar para um local totalmente
diferente daquele que vemos diariamente.
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Rua pitoresca de Piodão |
O ambiente acolhedor que nos transmite a aldeia por via do agrupamento tão cerrado das casas, a natureza envolvente, o frio de inverno, enfim, um verdadeiro cenário idílico para um bom fim de semana. Só de imaginar uma lareira quentinha dentro de uma destas casas, longe da confusão da cidade, isolado de um mundo rotineiro, somente paz e o xisto.
Só
não gostei da igreja (opinião própria) que acho que podia ser de
xisto também, e não caiada de branco e frisos azuis. E, obviamente, também não
gostei das assinaturas dos turistas que infelizmente teimam em deixar
nos telhados das casas dos habitantes da terra.
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Zona envolvente de Piodão |
O Sol
já se ponha, e tinhamos que aceitar que o dia chegava ao fim. Fomos
em direcção à Aldeia das Dez, local onde nos espera o nosso
repouso do primeiro dia, mas as surpresas ainda não tinham acabado.
Antes
de começar esta viagem de três dias, reservámos um quarto numa
casa de campo na “Casa do Secolinho”. Pelo site, parecia um local
muito bem arranjado e bonito... e assim foi. A Casa do Secolinho
pertence a um casal que tem um
conceito engraçado de hospedar. Como a edifício é uma casa normal, apenas com mais quartos, a parte da restauração está inserida numa sala do
tamanho de uma casa normal, como uma sala de jantar, ou seja, uma pessoa pode muito bem criar
amizades com as pessoas com quem partilhamos a mesa. Chegada a hora de
jantar, sentámo-nos na mesa de jantar com um outro casal que lá
pernoitava, um casal muito simpático, que nos proporcionou
um jantar agradável de troca de vivências. Falámos e falámos, os
donos da casa juntaram-se mais tarde, e foi engraçado o convívio
entre três casais de três realidades diferentes: os donos já eram
avós, o casal tinha 2 filhos adolescentes e nós não
temos filhos. Mais do que três gerações (que não chega a ser de
facto três gerações), são três perspectivas de vida e
experiências completamente diferentes, onde todos aprendemos sempre
algo. Estranho como se criou amizade de forma espontânea e fácil,
algo que pensara que não seria muito possível já na idade adulta.
Já
passava da meia-noite, e como estou habituado a acordar cedo e tinha
planos para tal, o sono já se sentia, mas no entanto estava a ser
tão agradável o convívio, que somente parámos quando todos já
estavam com sono.
Para saberem mais sobre este espantoso alojamento, visite Casa do Secolinho
2º Dia – Sabor, paisagem, granito e novamente amizade.
No
segundo dia, lá nos levantámos às 8h00 e descemos para tomar o
pequeno-almoço beirão. Nada de croissants, ou sumos artificiais.
Havia sim, presunto, chouriço, queijos, compotas e sumos naturais.
Um pequeno-almoço que facilmente poderia transformar-se num almoço.
Encontrámos novamente o casal que também lá pernoitou e
continuámos o convívio, mas desta vez, acabou por volta das 10h30,
pois esperava uma longa viagem pela frente.
Seguimos
estrada fora pela Ponte das Três Entradas (sim, tem mesmo uma ponte com
três entradas), seguimos pela estrada N230 que limita o Parque
Nacional da Serra da Estrela, com uma paisagem lindíssima, das
montanhas do nosso Maciço Central. Estrada sem ninguém e com céu
limpo dava para andar mais devagar e dar uns relances de olhar, com cuidado, pela
paisagem. Passámos por Erada, Tortosendo, Covilhã e fomos directos a Sortelha
para lá almoçar.
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Rua de Sortelha |
Quando
chegámos a Sortelha, estacionamos o carro fora das muralhas perto do
restaurante onde almoçámos, o restaraunte “O Celta”, isto para
depois visitar a aldeia típica de granito a pé, pois é o melhor
meio de conhecer uma terra. Almoçámos um delicioso ensopado de
cabrito acompanhado por um vinho da casa.
No plano original era para
visitar Sortelha, Sabugal e finalmente Belmonte, mas como o tempo já
estava apertado, optámos por visitar apenas Sortelha bem, e depois
ao final da tarde ir a Belmonte. Após o almoço, fomos a pé até ao
centro de Sortelha.
A
aldeia é linda. Parece parada no tempo, e nisso permanece bonita.
Não há uma única casa que não tenha resistido à tentação do
conforto e visual da casa moderna, e ainda bem. O granito reina em
Sortelha, assim como o xisto reina em Piodão. As muralhas que
envolvem Sortelha dá um ar ainda mais acolhedor e proporciona uma
paisagem selvagem muito bonita quando se olha para fora da aldeia e uma paisagem rústica igualmente bonita quando se olha para dentro.
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Palmilhada a aldeia toda, voltámos para o carro para ir um pouco
para trás em direcção a Belmonte, onde nos iríamos encontrar com
uma amiga nossa, e depois pernoitar na casa dela. Belmonte é um dos
maiores centros europeus da comunidade judaíca, e o local de
nascimento de Pedro Álvares Cabral. Lá encontra-se uma sinagoga, o
museu dos descobrimentos, e o museu dos judeus. Mas infelizmente já
não havia tempo para visitar nenhum e visitámos o castelo e demos
apenas uma volta a pé pela cidade.Terminada a pequena, infelizmente,
visita a Belmonte, que tanto parece ter para visitar, fomos em
direcção à casa da nossa amiga onde fomos recebidos calorosamente
pela família dela, que tantos mimos já nos deu.
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Convivemos
bastante, debatemos os assuntos do dia a dia, de Portugal e do mundo,
e chegada a hora do sono, lá fomos para um quarto que a família nos
proporcionou para repousar para o dia seguinte.
3º Dia – Douro, vinho e ...casa
Chegado
o terceiro e último dia, despedimo-nos da família da nossa amiga,
que nos agraciou ainda com produtos da terra deles, e nós, somente e
humildemente, retribuímos com uma garrafa que tínhamos comprado em
Sangalhos para este propósito.
Seguimos
caminho passando por Celorico da Beira, Trancoso, Sernancelhe, Moimenta da Beira e fomos
almoçar a Lamego. Lá aplicámos a mesma técnica de Sortelha, ou
seja, parámos o carro e lá fomos a pé visitar a cidade, mas antes
fomos almoçar.
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Ao longe, o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios em Lamego |
Após
o almoço subimos as numerosas escadas que servem o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, que vigia serenamente a cidade no topo do monte. Ao subir as escadas
somos acompanhados por azulejos belíssimos, estátuas, fontes,
pequenos jardins. Um percurso difícil, mas gracioso, pois somos presenteados
por todos estes detalhes magníficos. Chegado ao topo, temos uma vista sobre a cidade
de Lamego espectacular. Demos uma volta pelo santuário e fizemos o
percurso inverso. Terminada a visita a Lamego, atravessámos o rio
Douro, entrando por Peso da Régua e seguimos rio Douro abaixo, numa
paisagem magnífica com as montanhas com vinhas que produzem o
afamado vinho do Porto, com o rio caudaloso e sinuoso ao fundo
no sopé das mesmas. A estrada que acompanha o rio é estreita e
perigosa, o que não é agradável para o condutor, mas por vezes lá
olhava de relance para o lado para tirar uma fotografias mentais da
paisagem.
Curva
após curva, lá vimos uma placa a assinalar Marco de Canaveses e
seguimos a sugestão, e fomos em direcção a casa.
Chegando
a casa, fomos invadidos pelo sentimento de três dias bem preenchidos, recheados de
velhas e novas amizades, de paisagens naturais e rústicas repletas
de beleza e tão variadas que nem parece que percorremos somente o
centro da nossa terra.
Portugal
é tão pequeno face a outros países, mas apresenta tanta
diversidade em tantos aspectos, seja paisagísticos, gastronómicos,
culturas e tradições, e nós somente em três dias passámos por
uma pequena parte, que espero ter apresentado de forma simples e que
vos dê apetite para visitar esta parte do nosso país que é tão
bonita. Espero imenso, e de certo que farei, voltar a escrever sobre
o nosso lindo Portugal.
Até uma próxima!
Até uma próxima!