sábado, 20 de dezembro de 2014

Viagem ao centro da terra

Viva pessoal,

Escrevo em português, sou português, mas ainda não tinha escrito sobre Portugal. Não é que não tenha viajado pelo país fora. A verdade é que a duração e qualidade das viagens nunca foram suficientes para escrever sobre as mesmas. A culpa não é do destino (leia-se viagem), mas sim minha. Desta vez, foi diferente, e dito isto, eis que chega o diário de bordo sobre a última viagem que fiz: A viagem ao centro da terra.
Aproveitámos 3 dias para fugir da rotina. Três dias que aqui tento compactar para mostrar o que de bom (e acredito que seja apenas uma amostra) tem o centro do nosso Portugal.

1º Dia – Arte, vinho, xisto e amizade




Bem cedinho no primeiro dia, eu e a minha namorada fomos em direcção a Sangalhos, uma cidade do distrito de Aveiro, casa do famoso espumante Aliança. Sangalhos insere-se na zona da Bairrada, famosa pelos seus espumantes e leitões de comer e chorar por mais. Nesta cidade existe o museu “Underground Museum”, pertencente ao Comendador Joe Berardo, onde o próprio decidiu juntar o vinho e arte de todo mundo. Na entrada fomos recebidos por duas estátuas de Buda sorridentes, o que não é normal numa casa de vinhos, mas de facto é um pormenor bastante engraçado, e que representava que o espaço não é apenas sobre vinhos. No museu, por apenas 3€ cada, somos agraciados por uma visita guiada pelas caves Aliança, nessa visita, é explicado o processo de criação do espumante (onde aprendi, que não é o mesmo que champanhe), juntamente com esculturas tão diferentes como distantes em tempo e espaço, como por exemplo, tribos extintas da zona da Nigéria até à Índia de Gandhi. Há também fósseis (a maior colecção de fósseis de peixes do mundo), pedras crivadas de cristais vindas do Brasil e imensas peças do nosso Rafael Bordalo Pinheiro. Fomos conduzidos a 20 metros abaixo do solo, onde estagiam os diversos tipos de vinhos da Aliança, desde aguardente, a espumantes, passando para vinhos de festa, tipo “sunset parties”.
A visita durou 1h30 e vale muito a pena, se passarem lá perto, e também convém ir bem cedinho (visita das 10h00), uma vez que nós tivemos uma guia somente para nós os dois, ao passo que a visita seguinte (11h30) era composta de mais de 40 pessoas. Ter o menos pessoas possível é melhor, pois há uma melhor interacção e estamos um pouco mais à vontade para parar um tempinho a contemplar melhor determinadas obras.

No fim, tivemos uma prova de espumante Aliança e um novo produto dos tais vinhos de festa. Lembrem-se: Sangalhos, 3€, “Underground Museum”, 10h00 … um conjunto que vale mesmo a pena ter.
Para mais informações, visite o site: Underground Museum Sangalhos



Chegado ao fim, comprámos umas garrafas ao “preço de fábrica” para recordação e para oferecer, e prosseguimos viagem em direcção a Piodão.

Almoçámos pelo caminho entre Luso e Mortágua. Passámos por Santa Comba Dão, Tábua, Côja e pelas aldeias de Benfeita e já se podia vislumbrar a natureza belíssima da região central do país. Paisagens belíssimas de montes invadidos pelo verde e castanho das árvores e aldeia remotas encrostadas nas colinas das montanhas, Passado algum tempo nas estradas sinuosas, lá vimos Piodão em baixo no sopé da montanha. Tons castanhos e cinzentos da pedra xistosa aglomerados no meio de um gigante monte onde reina os tons característicos de Outono, eis que nos aproximávamo-nos da aldeia típica de xisto de Piodão.

Piodão - Uma aldeia típica de xisto


Piodão é uma aldeia que vale a pena caminhar pelas ruas estreitas, entre casas encavalitadas umas nas outras.
Rua pitoresca de Piodão
Só de imaginar o esforço titânico das pessoas a erguerem pedra sobre pedra as suas casas e o telhado com placas finas e largas do mesmo material, dá vontade de fazer uma com as minhas próprias mãos. As portas e janelas todas de azul, o chão das ruas também de xisto, vasos com flores e plantas, todo o cenário é lindo, e faz-nos levar para um local totalmente diferente daquele que vemos diariamente.

O ambiente acolhedor que nos transmite a aldeia por via do agrupamento tão cerrado das casas, a natureza envolvente, o frio de inverno, enfim, um verdadeiro cenário idílico para um bom fim de semana. Só de imaginar uma lareira quentinha dentro de uma destas casas, longe da confusão da cidade, isolado de um mundo rotineiro, somente paz e o xisto.


Só não gostei da igreja (opinião própria) que acho que podia ser de xisto também, e não caiada de branco e frisos azuis. E, obviamente, também não gostei das assinaturas dos turistas que infelizmente teimam em deixar nos telhados das casas dos habitantes da terra.

Zona envolvente de Piodão

O Sol já se ponha, e tinhamos que aceitar que o dia chegava ao fim. Fomos em direcção à Aldeia das Dez, local onde nos espera o nosso repouso do primeiro dia, mas as surpresas ainda não tinham acabado.
Antes de começar esta viagem de três dias, reservámos um quarto numa casa de campo na “Casa do Secolinho”. Pelo site, parecia um local muito bem arranjado e bonito... e assim foi. A Casa do Secolinho pertence a um casal que tem um conceito engraçado de hospedar. Como a edifício é uma casa normal, apenas com mais quartos, a parte da restauração está inserida numa sala do tamanho de uma casa normal, como uma sala de jantar, ou seja, uma pessoa pode muito bem criar amizades com as pessoas com quem partilhamos a mesa. Chegada a hora de jantar, sentámo-nos na mesa de jantar com um outro casal que lá pernoitava, um casal muito simpático, que nos proporcionou um jantar agradável de troca de vivências. Falámos e falámos, os donos da casa juntaram-se mais tarde, e foi engraçado o convívio entre três casais de três realidades diferentes: os donos já eram avós, o casal tinha 2 filhos adolescentes e nós não temos filhos. Mais do que três gerações (que não chega a ser de facto três gerações), são três perspectivas de vida e experiências completamente diferentes, onde todos aprendemos sempre algo. Estranho como se criou amizade de forma espontânea e fácil, algo que pensara que não seria muito possível já na idade adulta. 
Já passava da meia-noite, e como estou habituado a acordar cedo e tinha planos para tal, o sono já se sentia, mas no entanto estava a ser tão agradável o convívio, que somente parámos quando todos já estavam com sono.
Para saberem mais sobre este espantoso alojamento, visite Casa do Secolinho



2º Dia – Sabor, paisagem, granito e novamente amizade.




No segundo dia, lá nos levantámos às 8h00 e descemos para tomar o pequeno-almoço beirão. Nada de croissants, ou sumos artificiais. Havia sim, presunto, chouriço, queijos, compotas e sumos naturais. Um pequeno-almoço que facilmente poderia transformar-se num almoço. Encontrámos novamente o casal que também lá pernoitou e continuámos o convívio, mas desta vez, acabou por volta das 10h30, pois esperava uma longa viagem pela frente.
Seguimos estrada fora pela Ponte das Três Entradas (sim, tem mesmo uma ponte com três entradas), seguimos pela estrada N230 que limita o Parque Nacional da Serra da Estrela, com uma paisagem lindíssima, das montanhas do nosso Maciço Central. Estrada sem ninguém e com céu limpo dava para andar mais devagar e dar uns relances de olhar, com cuidado, pela paisagem. Passámos por Erada, Tortosendo, Covilhã e fomos directos a Sortelha para lá almoçar.


Rua de Sortelha


Quando chegámos a Sortelha, estacionamos o carro fora das muralhas perto do restaurante onde almoçámos, o restaraunte “O Celta”, isto para depois visitar a aldeia típica de granito a pé, pois é o melhor meio de conhecer uma terra. Almoçámos um delicioso ensopado de cabrito acompanhado por um vinho da casa.
No plano original era para visitar Sortelha, Sabugal e finalmente Belmonte, mas como o tempo já estava apertado, optámos por visitar apenas Sortelha bem, e depois ao final da tarde ir a Belmonte. Após o almoço, fomos a pé até ao centro de Sortelha.
A aldeia é linda. Parece parada no tempo, e nisso permanece bonita. Não há uma única casa que não tenha resistido à tentação do conforto e visual da casa moderna, e ainda bem. O granito reina em Sortelha, assim como o xisto reina em Piodão. As muralhas que envolvem Sortelha dá um ar ainda mais acolhedor e proporciona uma paisagem selvagem muito bonita quando se olha para fora da aldeia e uma paisagem rústica igualmente bonita quando se olha para dentro.




Aproximação ao castelo de Sortelha

Vista de Sortelha a partir da muralha

Castelo de Sortelha

Paisagem em redor de Sortelha


Palmilhada a aldeia toda, voltámos para o carro para ir um pouco para trás em direcção a Belmonte, onde nos iríamos encontrar com uma amiga nossa, e depois pernoitar na casa dela. Belmonte é um dos maiores centros europeus da comunidade judaíca, e o local de nascimento de Pedro Álvares Cabral. Lá encontra-se uma sinagoga, o museu dos descobrimentos, e o museu dos judeus. Mas infelizmente já não havia tempo para visitar nenhum e visitámos o castelo e demos apenas uma volta a pé pela cidade.Terminada a pequena, infelizmente, visita a Belmonte, que tanto parece ter para visitar, fomos em direcção à casa da nossa amiga onde fomos recebidos calorosamente pela família dela, que tantos mimos já nos deu.

Sinagoga de Belmonte ao fundo 

Torre do castelo de Belmonte, com a bandeira de Portugal e do Brasil (pois aqui nasceu o seu descobridor)

Convivemos bastante, debatemos os assuntos do dia a dia, de Portugal e do mundo, e chegada a hora do sono, lá fomos para um quarto que a família nos proporcionou para repousar para o dia seguinte.


3º Dia – Douro, vinho e ...casa




Chegado o terceiro e último dia, despedimo-nos da família da nossa amiga, que nos agraciou ainda com produtos da terra deles, e nós, somente e humildemente, retribuímos com uma garrafa que tínhamos comprado em Sangalhos para este propósito.
Seguimos caminho passando por Celorico da Beira, Trancoso, Sernancelhe, Moimenta da Beira e fomos almoçar a Lamego. Lá aplicámos a mesma técnica de Sortelha, ou seja, parámos o carro e lá fomos a pé visitar a cidade, mas antes fomos almoçar.

Ao longe, o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios em Lamego

Após o almoço subimos as numerosas escadas que servem o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, que vigia serenamente a cidade no topo do monte. Ao subir as escadas somos acompanhados por azulejos belíssimos, estátuas, fontes, pequenos jardins. Um percurso difícil, mas gracioso, pois somos presenteados por todos estes detalhes magníficos. Chegado ao topo, temos uma vista sobre a cidade de Lamego espectacular. Demos uma volta pelo santuário e fizemos o percurso inverso. Terminada a visita a Lamego, atravessámos o rio Douro, entrando por Peso da Régua e seguimos rio Douro abaixo, numa paisagem magnífica com as montanhas com vinhas que produzem o afamado vinho do Porto, com o rio caudaloso e sinuoso ao fundo no sopé das mesmas. A estrada que acompanha o rio é estreita e perigosa, o que não é agradável para o condutor, mas por vezes lá olhava de relance para o lado para tirar uma fotografias mentais da paisagem.
Curva após curva, lá vimos uma placa a assinalar Marco de Canaveses e seguimos a sugestão, e fomos em direcção a casa.
Chegando a casa, fomos invadidos pelo sentimento de três dias bem preenchidos, recheados de velhas e novas amizades, de paisagens naturais e rústicas repletas de beleza e tão variadas que nem parece que percorremos somente o centro da nossa terra.
Portugal é tão pequeno face a outros países, mas apresenta tanta diversidade em tantos aspectos, seja paisagísticos, gastronómicos, culturas e tradições, e nós somente em três dias passámos por uma pequena parte, que espero ter apresentado de forma simples e que vos dê apetite para visitar esta parte do nosso país que é tão bonita. Espero imenso, e de certo que farei, voltar a escrever sobre o nosso lindo Portugal.

Até uma próxima!


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Viagem a Bruges

Amigos,

Uma pequena cidade com 120 mil habitantes, onde não há monumentos nem museus conhecidos, um destino escolhido por imposição uma vez que a minha namorada tinha lá uma conferência, local onde falam uma língua incompreensível para mim... Estavam reunidos os ingredientes para uma viagem sem interesse ... foi totalmente o contrário!
Estou a falar de Bruges. Uma cidade localizada na zona norte da Bélgica que nos tempos da idade média foi um grande centro, ainda sobreviveu à 2ª guerra mundial e fez preservar a sua arquitectura e encanto pelos tempos.
O que vos contarei a seguir é a fantástica viagem a Bruges que fiz no mês de Maio de 2014.


Tendo conhecimento que a minha namorada, a Soraia, teve a presença confirmada numa conferência na cidade de Bruges, resolvemos tratar das viagens e estadias o quanto antes. O plano geral seria sairmos do Porto de avião para aterrar em Bruxelas, apanhar o comboio para Bruges e ficar lá durante a conferência e depois voltar (com este esquema invertendo) pernoitando uma noite em Bruxelas. Como tratámos de (quase) tudo antecipadamente, conseguimos ir e vir de avião para os 2 por apenas 79,6 € (19,9€ cada), estadia em Bruges por 53€/noite e 49€/noite em Bruxelas. Faltava apenas as viagens de comboio, mas optámos por não reservar pois teríamos que indicar as horas, algo que com atrasos e outros imprevistos, decidimos não arriscar.
Imprimimos os papéis das reservas e fizemos as malas calmamente na segunda-feira, pois o avião foi no dia seguinte às 15:30.
Portanto, na terça-feira, almoçámos umas deliciosas sandes de leitão no renovado e bonito mercado do Bom Sucesso. Estava tudo a correr calmamente e às mil maravilhas, até que descobrimos que não trouxemos o cartão de crédito!!!! Estávamos a 35km de casa com o avião a descolar em 1 hora e meia, e antes até comentámos como tudo estava a correr tão bem! De facto houve uma certa apreensão e questionámos se deveríamos voltar a casa para ir buscar o cartão. Mas não, desta vez arriscámos e continuámos calmamente o percurso até o aeroporto (Atenção: no final, correu bem pois não precisámos do cartão de crédito na viagem, mas é melhor levá-lo sempre).
Finalmente estávamos a levantar voo em direcção a uma férias espectaculares!
  
Vista sobre o Norte de Portugal  Vista sobre a Bélgica

Aterrámos no aeroporto de Zaventem e apanhámos logo o comboio para Bruges. Apenas uma nota: o bilhete de ida de comboio foi mais caro que o bilhete de ida de avião (20,6€ vs. 19,9€), pouco mas foi!

  
Bilhete de comboio de Zaventem para Bruges  Chegada a Bruges

As viagens foram tranquilas e finalmente chegámos às 21:15 a Bruges. O hotel era o Ibis Budget e era mesmo ao lado da estação, ou seja, fora do centro histórico de Bruges. Antes de fazer o check-in ainda fomos procurar um local para jantar, uma vez que não tínhamos comido nada desde o Porto. Mas já estava tudo fechado! Então comemos uns waffles duma máquina de vending. Depois do "jantar" fomos para o hotel e finalmente pousámos as malas. O hotel era jeitoso e o quarto, embora pequeno, era bastante confortável, e tudo isto por 53€ a noite!
O quarto fez-me lembrar o quarto em Londres, mas este tinha um aspecto mais arrumado, tinha televisão e umas espécies de mesinhas-de-cabeceira e cadeiras para pousarmos os pertences e roupa (utilidades inexistentes em Londres). E foi assim o dia de chegada para preparar a aventura que vinha a seguir.


Dia 1 - Vou ali à praia de bicicleta e volto já (37,3 km)

Percurso de bicicleta de Bruges até Zeebruge

Como a Soraia ia estar ocupada com a conferência, achei que não valeria a pena desfrutar do romantismo de Bruges sem a companhia dela, daí deixei a verdadeira visita à bonita cidade quando ela estivesse livre. Deste modo tinha 2 dias livres para fazer algo engraçado sozinho.
Após ter acompanhado a Soraia até ao local da conferência, fui a uma loja de aluguer de bicicletas (a mais barata da pesquisa que fiz antes de ir de férias) e aluguei uma bicicleta por um dia por apenas 6€ e sem caução (do que pesquisei, era normal ser 8, 10 ou 12€ e algumas com caução de 50€). O dono da loja era um pouco antipático, mas o que eu queria era uma bicicleta barata por um dia e não a simpatia dele. Portanto deixei os meus dados e fiz-me à estrada


  
Loja de aluguer de bicicletas  A bicicleta alugada


O objectivo deste dia era ir à praia, mais propriamente a Zeebruge. E este objectivo pertencia a um objectivo ainda maior que era demonstrar que estes países têm uma sorte enorme em estar no centro da Europa, pois podem facilmente ir passear para outro local com culturas e vivências diferentes, e as vantagens que isso acarreta tanto a nível pessoal como colectivo.
Zeebruge fica a 18 km de Bruges e é uma cidade com um porto enorme. Não andava de bicicleta há meses, logo foi muito penoso para mim, ainda para mais, perdi-me algumas vezes. Felizmente aquela zona é muito plana e a temperatura estava impecável.

Canal ao sair de Bruges
Após estar perdido, lá encontrei uma placa a indicar onde é Zeebruge
Ciclovia de acesso a Zeebruge
Acesso a praia em Zeebruge
Zeebruge
Praia de Zeebruge
Molhar os pés nas águas do Mar do Norte
Mar do Norte


Pronto, lá cheguei a Zeebruge. A cidade estava vazia, pois era dia de trabalho, mas tinha uma praia enorme (mas nada se compara às nossas praias portuguesas, ao seu Sol, areia e temperatura da água). Para cumprir o objectivo do dia, fui molhar os pés nas águas do Mar do Norte. A água não estava gelada, e até soube bem. 
Ao voltar fui despropositadamente por outro percurso, sem me perder e até encontrei uns locais bonitos, e finalmente, lá cheguei a Bruges.

Igreja numa aldeia a meio caminho de volta
Placas a indicar o caminho
Entrada de Bruges
Porta de Ezelpoort, entrada do centro histórico de Bruges

Voltei à loja de aluguer, entreguei a bicicleta e as dores já eram muito fortes. Fui ao hotel para tomar um banho revigorante, mas quando cheguei ao quarto deitei-me e ... adormeci. Dormi durante uma hora e quando me levantei para tomar banho, as minhas pernas estavam a causar-me um grande sofrimento. Resultado, tomei banho sentado num poliban. No fim, lá arranjei forças para ir comprar o pequeno-almoço para o dia seguinte e encontrei-me com a Soraia para jantar num restaurante perto do hotel.
O jantar foi pizza e ice tea ... com gás! Pois é, uma nota importante para quem não gosta de bebidas com gás, tanto em Bruges, como em Bruxelas, qualquer bebida tem gás, até o ice tea, e fica com um sabor muito estranho. No entanto a pizza estava saborosa e a lasanha da Soraia tinha bom aspecto. Tudo ficou por 26€. Voltámos ao quarto e descansámos para o dia seguinte. Ainda consegui ver o Benfica que infelizmente não ganhou a Liga Europa (e não, não sou do Benfica, mas gosto que equipas portuguesas ganhem competições internacionais).



Dia 2 - Vou ali à Holanda de bicicleta e volto já (34,6 km)

Percurso de Bruges (Bélgica) até Sluis (Holanda)
No dia seguinte o meu corpo continuava a doer mas ainda tinha uma viagem para cumprir a minha missão. Desta vez o objectivo era atravessar fronteiras e ir para outro país ... a Holanda.
Lá voltei à loja de aluguer de bicicletas do dia anterior e já fui melhor recebido. Estava lá muita gente e o dono avisou que não tinha nenhuma bicicleta disponível, excepto uma em 2ª mão! Fez questão de me deixar experimentar antes de lhe pagar (de facto a bicicleta gingava por todos os lados), mas como estava numa de aventura, aceitei e ele fez um preço especial de 5€ pelo dia.
E lá fui eu!

Bicicleta de 2ª mão do 2º dia
Igreja em Bruges no percurso em direcção à Holanda
Moinho de vento em Bruges
Damme, uma vila a meio caminho
Placas a indicarem as distâncias para os locais da zona
Chegada a Sluis (Holanda)

Os músculos das pernas, mãos e rabo já estavam a implorar para parar, mas a missão tinha de ser cumprida. Passei por Damme, segui outros ciclistas e fui dar uma volta maior desnecessariamente e lá cheguei à Holanda, mais propriamente a Sluis.


Canal principal de Sluis
Restaurante e moinho em Sluis
Igreja em Sluis
Outra perspectiva do canal

Sluis é uma vilazinha holandesa muito bonita e também muito turística. Estava imensa gente nos restaurantes (com preços elevados para o que estava disposto a pagar) e tinha um ambiente espetacular. Entrei num supermercado e lá comprei o meu almoço


O meu almoço em Sluis


Almocei junto ao canal, num banco de madeira, a apreciar o momento de paz, com um Sol e temperatura maravilhosos. Descansei um bom tempo a pensar que o objectivo estava quase concluído, faltava apenas voltar. 
E assim, devagarinho, comecei a fazer a viagem de volta a Bruges.
As dores eram insuportáveis, não tinha posição confortável em cima da bicicleta, e ajudava as pernas a pedalar com as minha mãos. 
Mas o que fiz a  seguir não dá para transpor em palavras: parei um pouco, pus os auscultadores, liguei-os ao meu telemóvel e coloquei esta música. (Sugiro que ouçam a música enquanto continuam a ler).
Devagar recomecei a pedalar. A conjugação da música com a água dos canais, com o verde das árvores e da relva, com o céu azul, a brancura da nuvens, a aragem refrescante, tudo combinado, deu-me forças para pedalar e pedalar para chegar ao destino... foi um momento único e algo que tão cedo não irei esquecer.


Momento em que parei para pôr a música
Percurso para Bruges
Mais outra foto, o verde das árvores
O Sol e a luz, e o canal à direita

Uma boa música torna o momento mais agradável, mais motivador, mais inspirador e inesquecível. E com a tecnologia que temos actualmente, podemos facilmente acompanhar os momentos mais marcantes com as nossas músicas favoritas. Quando estamos em grupo não convém colocar auscultadores, pois cria uma barreira social desnecessária, mas quando estamos sozinhos, a música é um factor de motivação que nos faz chegar mais alto e viver o momento com maior intensidade. Experimentem, vão ver que a sensação é indescritível.
O momento único que vivia fez-me esquecer as dores, e finalmente conclui a minha missão: cheguei a Bruges!

Entrada de Bruges, Dammeport


Fui à loja de aluguer de bicicletas e entreguei-a. Despedi-me do dono e fui para o hotel tomar banho e descansar um pouco. Tomei banho, mas depois não descansei, pois ainda estava encantado com o momento que tinha acabado de viver. Nesse dia, a Soraia tinha o jantar de convívio da conferência nesse dia, logo fui dar umas voltas pela cidade. Fui ao mercado, e a luz do fim de tarde proporcionou imagens lindas do centro histórico desta linda cidade.

Catedral de Sint Salvators
Praça do Mercado
Outra perspectiva do mercado
Mais outra perspectiva do mercado
Mais outra
Belfort (fica no mercado)
Fachada de um edifício muito bonito (fica no mercado também)

O recorte das fachadas, as cores, a calçada, a limpeza, os sons desta cidade única encantaram-me.
Naquele dia, Bruges entrou no meu Top 5 de cidades favoritas. Apenas faltava desfrutar um momento com a companhia da Soraia, então aproveitei para ver horários e preços para andar de barco no dia seguinte. Voltei ao quarto do hotel e como havia wi-fi, experimentei a app que desenvolvi, o PicPOI (ou podem vê-lo aqui no facebook), para mandar uma foto de Bruges que tirei naquela tarde.
Chegou a noite e o cansaço era tanto que adormeci logo a seguir à Soraia ter chegado.



Dia 3 - Adeus Bruges, obrigado! Olá Bruxelas (98,8 km de comboio)

Percurso de comboio de Bruges até Bruxelas

A conferência ainda tinha uma parte de manhã e terminaria após o almoço. Aproveitei essa manhã para vaguear novamente pela cidade de Bruges e apreciar qualquer momento neste paraíso. Vi souvenirs e preparei tudo para proporcionar à Soraia e a mim um último momento mágico em Bruges. Ainda fui ao supermercado comprar umas sandes e sumo para o almoço e por volta do meio-dia lá fui almoçar no Minnewaterpark (em português, o parque do lago do amor).

Uma vista de uma das inúmeras pontes de Bruges
Uma rua algures em Bruges
Entrada de Bruges via Minnewaterpark
Uma ponte do lado do amor (o sítio em que tirei esta foto contém um segredo)
O parque onde almocei pela última vez em Bruges

O Minnewaterpark era a nossa porta de entrada a Bruges que ligava o hotel onde estávamos até ao centro da cidade. Atravessei-o várias vezes e já fazia parte da rotina, como se já fizesse parte de mim, e queria deixar para o fim para finalmente sentar-me, almoçar ... e apreciar.
Enquanto almoçava, crianças de alguma escola brincavam, jovens e adultos sentados na relva à minha volta conviviam, e um idoso atirava um pau para que o seu amigo de quatro patas o fosse buscar. A qualidade de vida e felicidade estava bem patente em qualquer rosto naquele belo parque, algo que não vejo muito no nosso país. O que será que nos falta? Não ter políticos corruptos? Salários melhores? Educação melhor? Menos impostos? ... Bom, acho que poderíamos começar por sair para o parque mais próximo e conviver com os amigos.
Após o almoço, a Soraia enviou uma mensagem a dizer que a conferência tinha acabado, e então fomos fazer a viagem de barco pelos canais de Bruges.

Já no barco a fotografar uma ponte
Um edifício antigo e bonito
Reparem no recorte das fachadas das casa
Casas típicas de Bruges
Ao longe é a torre de Belfort do mercado
Esta casa tinha fachada em madeira
Bruges e o canal
O canal por onde íamos
Uma varandinha sobressaída, própria para apreciar um livro ou uma paixão
Enfim, só mesmo estando lá. Tudo é bonito, tudo está arranjado e cuidado, tudo perfeito ... só estando lá é que se sente, é impossível descrever o momento que vivi.
Com o fim da viagem de barco, fomos com as malas em direcção à estação de comboios e apanhámos o comboio para Bruxelas.
Adeus Bruges, obrigado pela experiência única que me proporcionaste! Espero mesmo voltar, para reviver estes grandes momentos!

E chegámos a Bruxelas a meio da tarde. Fomos a pé até ao hotel Sabina (49€/noite), perdemo-nos até chegar lá, mas lá chegamos ainda a tempo de pousar as malas e sair para dar uma voltinha.

Edifício imponente em Bruxelas
Jardim e vista sobre Bruxelas
Manneken Pis
Fachada muito bonita e bem trabalhada 
Edifício do Grand Place de Bruxelas
Outra perspectiva do Grand Place



Bruxelas é uma cidade enorme, cheia de edifícios altos que trazem uma certa escuridão à cidade. Neste blog, gosto de enaltecer os locais por onde passo, ou pelo menos não criticar, mas Bruxelas é um sítio que não gostei muito. Admito que com o que vivi em Bruges, a fasquia estava muito alta, mas o facto é que havia muita sujidade e pobreza, e a própria cidade era fechada e com poucas placas a indicar ruas e locais turísticos. 
Descemos umas ruas e fomos jantar a um sítio adequado à nossa carteira e com um simpático dono de um restaurante libanês.

Jantar no restaurante libanês

Comemos um shawarma cada um, bebida, uma sobremesa e café, tudo por 21€. Já escurecia e decidimos voltar para o hotel. O nosso quarto era pequeno, tinha um aspecto velho, mas tinha tudo para ter uma noite confortável. E assim foi.
No dia seguinte tomámos o pequeno-almoço lá no hotel. Pagámos 3€ cada e enchi o bandulho para o dia, uma vez que podíamos tirar o que quiséssemos.

Pequeno-almoço no hotel

Fizemos o check-out e com as malas andámos por Bruxelas a aproveitar o máximo pois tínhamos que apanhar o comboio das 11h, para apanhar o avião às 13h30.
Visitámos pouco no pouco tempo que tínhamos, pois perdemo-nos, novamente. Apanhámos o comboio, almoçámos no aeroporto (desta vez foi Nestea com gás ... muito mau, diga-se de passagem) e levantámos voo para o nosso cantinho da Europa, jardim à beira-mar plantado!



Esta viagem à Bélgica recarregou-me as energias. Fisicamente estava de rastos, mas de cabeça estava impecável. Relembrou-me o poder da música certa no momento certo. Vivi momentos românticos, vivi momentos de paz e de pura apreciação. 
Costumo pensar que viajar não é somente ir do ponto A ao ponto B, há toda uma panóplia de sensações, sentimentos e vivências que podemos consumir a cada esquina. Viajar é importante para o nosso crescimento individual e também na sociedade. As viagens de bicicleta que fiz, foi para demonstrar a sorte que os belgas e outros da Europa Central têm, pois podem ter essas experiência muito facilmente


Localização de Bruges na Europa

Num raio de 300km podem visitar 5 capitais!
Uma coisa é certa, se não podemos estar no centro da Europa, ao menos que peguemos nuns auscultadores e façamos umas viagens pelos verdes que temos, ou até peguemos nos nossos amigos para conviver num parque mais próximo ... isto, também, faz-nos bem!

Até à próxima viagem, amigos!
Rui Costa